domingo, 27 de abril de 2008

Para sempre.

Sábado iluminado, pássaros cantando (não dava pra vê-los no meio do mar de cimento ao longo da janela), nuvens fofas; com certeza, era dia de casamento. Do casamento de Teresa.
Ana Teresa, namorando à seis anos, noiva à dois. Acordou animada, cheia de expectativas. Ia passar o dia sendo paparicada, bem cuidada, sob mãos e olhos profissionais que lhe deixariam deslumbrante pra noite que ia mudar o resto de sua vida. Ou melhor, de suas vidas. Sérgio também acordou com os humores alterados.
Manhã: salão de beleza, fazer escova, unha, limpeza de pele, celular tocando o tempo todo, amigo que não pode vir, presente que fulano mandou, casa cheia de mulheres, umas com inveja, outras tentando ajudar, palpites intermináveis no vestido, no arranjo de cabelo, água nas flores do buquê; terno pra passar, cabelos pra aparar, aquele uísque com um amigo de infância, esperar chegar a hora.
Tarde: maquiagem, vestir o vestido, arrumar as daminhas, os noivinhos, a florista, arranjos no cabelo, escolher as flores pro buquê, estressar com o motorista atrasado; ainda tomando uísque enquanto vestia o terno, esperar a hora chegar.
Noite: a hora chegou.
Sérgio ainda tinha dúvidas se devia ter escolhido outro terno. Não era um dia qualquer, logo Teresa entraria na igreja, de branco, do jeito que toda mulher sonha aparecer um dia. A igreja, cheia, enfeitada com lindos arranjos de tulipas naturais (suas flores favoritas); quando ela chegasse, estaria perfeita.
Teresa entrou no carro com o coração aos saltos, quase enlouquecida com o excesso de caprichos da mãe, que nunca estava satisfeita com a maquiagem e refazendo-a umas três vezes. O nervosismo tomava conta dos seus dedos por dentro das luvas sete oitavos. O casal de noivinhos refletiam o resto de sua vida ali mesmo, dentro do carro, e cada rua que o motorista virava em direção à igreja, pra ela, era uma nova virada que seus dias de casada possivelmente sofreriam; e quando o carro estacionou na porta da igreja, já não havia mais o que pensar. Era entrar na igreja e aproveitar o momento em que todos os olhares estariam virados pra ela. Sérgio com certeza estaria num lugar visível, encontraria forças em seu olhar.
"Bandolins" começou a tocar no altar, prova maior de que sua hora, de fato, havia chegado. Ia entrar sorrindo, acenando pra quantos fosse possível, "como se já fosse impróprio se dançar assim". Não restava nada a fazer além de dar o braço ao pai e encarar o tapete vermelho. Ah! Havia sim! O olhar de Sérgio!
E o encontrou por trás do segundo arranjo de tulipas, no lado esquerdo.
Agora tinha forças pra chegar ao fim do tapete vermelho, dar o braço ao noivo e dizer "sim" ao resto de sua vida.
Sérgio lhe passou todo o resto de forças que ainda tinha com o olhar. Esqueceu de guardar um pouco pra continuar vivendo e puxou o gatilho de uma 38 com o cano encostado na têmpora duas horas depois.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Recado aos estimados leitores

Devido um problema com meu computador, causado por um desocupado provindo do mesmo útero que eu, tive que formatá-lo.
Consequentemente, perdi todo o meu arquivo pro blog; todos os textos que eu pretendia postar.
Precisarei de um tempo para repor o que perdi, para organizar minha vida antes de postar normalmente; logo, se eu sumir por uns tempos, não se aflija: farei o possível para voltar logo.
Talvez sob outra face, com certeza com um sorriso explêndido. E talvez até curada de boa parte dos meus vícios, inclusive os de linguagem.
Até lá, deleitem-se com meus companheiros de palavras, os links estão disponíveis na culuna "Café com:"
Estimo-os, aguardo-os, esperem-me.
Atenciosamente,
Maria Helena Sobral.