quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Deixei onde posso encontrar. E deixaria de novo. Desde que encontrasse.



Foto por Andrei Gurgel
"Flor do Mandacaru"


Vi no meio daquele mar de rochas
De barro, de mato seco e de animais murchos
Algo que se erguia tão feio quanto o que havia ao seu redor
Onipotente, prepotente, ignorante, incomodo
Não tornava nada mais belo
Era só uma linha verde teimando em brigar com o marrom-morte
Um mandacaru

Vi no topo daquela estrutura dantesca
Esdrúxula, desengonçada, frágil e ousada
Algo mais delicado que as mãos da minha filha
Meiga, sensível, virginal, tremula
Não tornava nada mais belo
Era a própria beleza
Afrodite encarnada perdida no Hades
Ponto rosa engolido pelo implacável marrom-morte sem se misturar
Ínfima, não embelezava tal feiura
Orgulhosa, recusava-se render-se à mesma
A flor do mandacaru

Vi dentro de minh'alma o desejo
De torná-la minha, tirá-la de onde sua beleza pudesse ser sorvida
Porém de nada adiantaria
Pelo contrário, poderia fazer-lhe mal pior até
Deixei-a onde o vento a embala e a terra racha
Onde eu voltaria e a encontraria mais bela

Vi perdido no teu rosto inconsequente teus lábios
A falar, a cantar e a encantar
Delicados como as mãos de minha filha
Desejo-os, mas não os tomo
Deixo-os onde eu possa voltar e encontrá-los mais belos
Mais doces, mais ansiosos, falantes, cantantes e chamando meu nome
Tentadores
Tão tentadores quanto arrancar a flor do mandacaru.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Me achei numa folha de papel na grama do lago.

Estava eu ouvindo Garbage à beira de um lago na universidade que estudo, quando uma folha colorida de caderno me chamou atenção. Eu não ia pegar...qual o problema de uma folha solta pelo gramado da beira do lago??Não ia ter nada interessante lá pra ler. E eu ia ter que sair da minha confortável posição; deitada no banco com a cabeça apoiada na mochila. Ainda ia ter que calçar meus all stars de cano curto...em resumo, "mó" trabalhão!
Mas o papel balançava, rodopiava com o vento, até que, (maldita curiosidade!!), me levantei, pisei na grama com minhas meias alvas e peguei. Estava um pouco encardido(poxa, tava rolando na grama, pou!), mas dava pra ver que era de uma adolescente(porque só uma adolescente pra comprar um caderno da Pucca cheio de melancias nas folhinhas!). O melhor vem agora: o que estava escrito.
Ps: eu não perderia meu tempo copiando o que tem no bendito papel se não valesse à pena. Leia se quiser.
Era assim:
"10 de janeiro:esperando Eduardo chegar. Tou sentada nos degraus da biblioteca da universidade. 14:35. É pra ele chegar de 15:00. Tou nervosa, trêmula, com saudade, um frio nojento na barriga, triste(briguei com mãe), terceiro ônibus que ele devia estar acaba de passar e...nada(p***, é de 15:00!), tentando achar a cara e a pose menos idiotas possíveis(eu estaria melhor no laguinho da praça aqui perto, mas o tempo de chegar lá é o tempo de Edu aparecer), confusa(Putz, esse é o pior: se é só curtissão, por que essa merda desse frio na barriga??) e...ele acabou de ligar. Ele vem(êêê...), mas vai se atrasar. Vou pro lago.

Cheguei no lago, sentei num banquinho até legal, ventilado...continuando:
Feliz(sei o que eu quero e vou lutar por isso), puta(o ano tá acabando e não vejo perspectiva alguma pra nada!- ABSURDO!), vazia(só quero ficar só- EU NÃO SOU EMO!), impaciente(não é Edu...é a rádio que não toca nada que preste e, quando toca, chia! Ah, se eu tivesse um mp3...ou 4!), arriada no banco(acabei de chegar na outra página), receosa(não sei se é bem a palavra certa, mas as meninas vão me matar porque eu não fui encontrar com elas no barzinho!), me definindo(tou assumindo o que eu gosto...e o que eu não gosto também!), descabelada(o vento tá ótimo e tou nem aí ^^), deu medo(chuva não, por favor!), vendo patos(ai que meigo! Estão catando restos e fazendo "quá". Phoda vai ser se um me atacar. Calma, sem movimentos bruscos. Eles já vão...já foram!), estúpida(relaxa que ele chega XD), sem apetite(aaahhhfff...não entra nada!), aahhh...cansei! Vou esperar ele chegar.
Ele chegou =P"

O porque de eu fazer questão de postar isso: eu era exatamente assim. Um turbilhão de hormônios em fúria. Nenhuma lógica.
Passar bem.