terça-feira, 28 de setembro de 2010

Estou bem, meu bem.

Eu achei que quando você fosse embora, faria-se noite em meu viver. Mas veja só o quanto estou bem! É até irônico que eu, aquela garotinha pequena, indefesa, que secava chorando quando brigávamos, que reprovava na faculdade, que perdia festas, reuniões de amigos e cinema com a mãe, esteja tão bem.
E o mais impressionante: VIVA!
Estou bem, meu bem, de verdade.
Fui pra boate, dancei muito, conheci pessoas e cheguei em casa de manhã com os pés inchados.
Fui pro barzinho, SOZINHA, no meio de um monte de homem, coisa que eu adoro. E sabe o melhor? Não cacei nem peguei nenhum (só pra contrariar AQUELA sua norma que você conhece bem).
Fui pra cinema, SOZINHA.
Fui pra cafeteria com minhas amigas de falar putaria, fumar e tomar cafés exóticos.
Fui pro posto, conheci uma tal de Heineken e estamos de casamento marcado.
Fui pra praia, peguei um bronze, tou até menos pálida.
E que o vermelho do meu cabelo tá teimando em voltar?
Tomei todas na casa de uma amiga, vomitei, e comecei a beber de novo. Não por depressão, mas porquê eu quis mesmo.
Voltei pro meu Hollywood Caribe e seu delicioso cheiro de menta nos meus dedos.
Desentoquei meus esmaltes azuis.
Meu violão não tem mais poeira.
Meus alunos vão se apresentar num Festival de Leitura e Escrita, e eu estou indo muito bem no trabalho.
Meu quarto tem luz por toda parte, e estou me preparando para pintá-lo mês que vem.
Meus amigos me abraçam sem medo, e todos os meus apelidos estão voltando aos poucos.
Tenho um amigo (amigo mesmo, sabe? Foda-se AQUELA sua regra) com o mesmo nome que você, a diferença é que ele me ama do jeito que eu sou.
Eu estou tão bem que é até injusto te escrever aqui hoje.
Mas é tanto tempo lendo seus lamentos, seus choros, sua angústia, que senti vontade de te mandar notícias, sabe? Um alô, pra onde quer que seja esse inferno que você construiu pra si próprio.

Saudade existe, eu confesso. E não sei por quanto tempo ela vai teimar em latejar. Mas não é maior que a saudade que eu tava de mim mesma.
Mesmo com os pesares, obrigada. Descobri o quanto não consigo viver sem mim.
E não chore mais, não lamente, não se desespere.

Eu estou bem.