terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Antes de mim, ela.


-Me expõe, me expõe!

Era basicamente isso que ela queria quando me criou. A pequena era tão incompetente que nem chegou a 1,60m de altura, e tudo que ela queria era um lugar ao sol (ou à penumbra, não sei). Ela escrevia, tinha o hábito desde que ainda corria com o lápis a cartilha do jardim de infância; queria mostrar pra alguém o que podia escrever, queria mostrar pro mundo o que podia escrever. E tinha vergonha do que escrevia. Tinha vergonha de falar em sexo, em cigarros, em drogas e outros componentes de um sub mundo injustiçado por uma índole conservadora. Queria saber, fazer parte e interagir com esse mundo, queria que seu contato com ele fosse acima da mera teoria, queria ser e não ser, estar além do corpo.
Queria materializar seus sonhos e suas piores frustrações.
Queria pôr um toque singelo de amargo e sádico na sua vidinha feliz e colorida com gosto de chocolate.
Queria transcender as barreiras da tão mitológica felicidade e descobrir o que pode vir antes e depois dela.
O mal, o perverso, o inverso, o cru e o azedo.
Assim nasceu Maria Helena.

Para P.L, que me odeia.