sexta-feira, 9 de maio de 2008

Na sala de estar.

Sento

E percebo que começo a olhar para um nada aparentemente inexistente

É quando olho pra dentro de mim

E percebo a quantidade de faces que costumo usar

E essa é a pior

Largada numa calçada, olhando carros passarem

Pessoas desinteressantes

Vivendo suas vidas desinteressantes

Eu

Munida de um inferno astral e quatro cigarros

E algumas cédulas na carteira, pra qualquer emergência

Os cabelos desgrenhados, o delineador

Borrado

A minha paradoxal falta de consciência

Num momento de introspecção

Me examino de novo

E encontro uma garotinha encolhida num quarto escuro

Os olhos feridos pela luz do meu cigarro

Que não é muita, mas um verdadeiro farol pra quem à muito não sabe o que é

O iluminar da luz do dia

Ela não chora, não se mexe, não reage

Só me pragueja, me amaldiçoa

Grita, escreve onomatopéias agressivas

E eu, ser passivo e indignado

Recolho-me à minha insignificância

E vou fumar meu Holliwood sentada na calçada



Em casa

Despida em frente ao espelho

Esquadrinho cada centímetro de um corpo que julgo meu

Não reconheço mais as curvas do meu rosto

Não encontro mais meus tão sedosos e compridos cabelos

Não sinto mais o aroma de sabonete que insistia em encarnar em mim

Mesmo horas depois do banho

Perco meus sentidos

Não vejo minha boca mover-se quando canto uma canção que não ouço

Não sinto o cheiro que procuro em mim

Assim como não me sensibilizo ao tocar minha própria pele

E mesmo quando meus sentidos voltam, faço questão

De continuar meu momento nostálgico

Saudade de mim

De quando eu era menina e não tinha questões

De quando meu maior problema era chegar ao galho mais alto da mangueira

De, ao invés de despir minha roupa, despir minhas máscaras

Que até nas horas de extrema sinceridade

Me tornam falsa, inerte, superficial

Absurda


Não é de dormir que eu tenho medo

É de como vou acordar.