segunda-feira, 7 de julho de 2008

Retrato em P&B


Um encontro de Maria Helena Sobral e Sophia Fidélis.

Um domingo que vale à pena registrar. Um encontro quase histórico se não envolvesse duas anônimas soltas pelo centro de uma cidade distante. Não era nada confortável estar percorrendo os becos e avenidas de Caruaru com um celular, uma câmera digital, cinco reais e um prendedor de cabelo distribuídos nos meus dois bolsos. Ela, alegre, menina brincalhona que sempre foi, com uma bolsa à tiracolo cheia de cigarros, uma saia indiana esvoaçante, blusa marron despreocupada, os curtos cabelos ao vento e uma vontade louca de me fazer relaxar. Relaxar como?! Eu estava sem documentos! Correndo o risco de ser assaltada! Bobalheiras e paranóias de cidade grande; eu não estava livre de nenhuma delas. As conversas, ah, as conversas! Todas produtivas, lógico.
-O meu * faz muito bem...
-O meu * faz ainda melhor...
Não tínhamos muito o que falar. Queríamos ser meninas de novo, livres como nos tempos de infância, no sítio dos nossos bisas no meio da caatinga. Tirar fotos em monumentos, soltar fumaça de cigarros no vento frio, falar palavrões e cantar cantigas pornofônicas. Éramos nós, apesar de toda a minha tensão.
-Eu estou sem minha bolsa! Sem documentos!
-Eu juro que te arranco um braço fora da próxima vez que você falar a palavra ''documentos''.
O intuito inicial era comprar pilhas pra minha câmera, mas terminamos revivendo nossa infância por alguns minutos. Eu, no auge da minha paranóia urbana, tratei de terminar nosso momento insistindo pra pegar o ônibus de volta à casa de nossa tia, onde eu estava hospedada. Não tinha a menor intenção de ficar ali no meio de onde eu nem sei com aquela louca de cabelos descoloridos, cheia de disposição pra não fazer algo que prestasse.
O que eu não percebi nos nossos poucos minutos de aventura foi que eles eram únicos; e que eu não estava contribuindo em nada para que se tornassem especiais.
Ainda assim, o foram.

[Te amo! o/]

Meu beijo sincero à nossa aprendiz na arte da loucura.