The surreal parade.
Me debruço na janela, segurando minha caneca azul fosco cheia de café requentado. Não demora muito e Alice aparece correndo atrás de seu Coelho Branco. Tão loira (ou morena, as ilustrações de John Tenniel são em preto e branco), serelepe, curiosa e instigada, se emburaca rumo ao desconhecido, que lhe engole numa única abocanhada.
Logo em seguida, me aparece um exército de Ents. Cascas grossas, velhas sábias, cruéis e onipotentes, não há machado que as derrubem ou palavras que lhe desmintam. Barbávore, mais velha, me sorri desajeitadamente, e minha caneca treme com os passos das gigantes anciãs.
Incrédula, testemunho todos os meus conhecidos da faculdade vindo logo atrás. Alguns, inclusive, ousam pendurar-se nos galhos das árvores retardatárias do último desfile. Outros, pouco mais atrás, lêem Le Goff, Duby, Bloch e até Sartre. Os da parte final bebem, fumam e cantam numa só algazarra. Provável que eu, se não na minha posição de mera espectadora, estaria no meio deles.
Boca maldita! Mal me menciono, venho eu. Uma mochila, um par de all stars, alguns cigarros e folhas em branco. Lágrimas. Eu choro perante tanta fantasia e pouca vontade. Muita vontade e pouco tempo. Muito tempo e pouca coerência. Pareço confusa, dando um tempo de mim, da minha vida, do trabalho, do café, do cigarro, de Coelho, de Estella...
Mas sei e sinto que não morri. Nunca estive tão viva. Muda, mas viva. Desenterro contos, escrevo outros, rasgo a maioria, mas não os abandono. Nem que eu permaneça dopada, escrevo. O que vi, o que fiz, o que sou ou deixo de ser.
Perdão, M.H voltou.