
Foto por Andrei Gurgel
"Flor do Mandacaru"
Vi no meio daquele mar de rochas
De barro, de mato seco e de animais murchos
Algo que se erguia tão feio quanto o que havia ao seu redor
Onipotente, prepotente, ignorante, incomodo
Não tornava nada mais belo
Era só uma linha verde teimando em brigar com o marrom-morte
Um mandacaru
Vi no topo daquela estrutura dantesca
Esdrúxula, desengonçada, frágil e ousada
Algo mais delicado que as mãos da minha filha
Meiga, sensível, virginal, tremula
Não tornava nada mais belo
Era a própria beleza
Afrodite encarnada perdida no Hades
Ponto rosa engolido pelo implacável marrom-morte sem se misturar
Ínfima, não embelezava tal feiura
Orgulhosa, recusava-se render-se à mesma
A flor do mandacaru
Vi dentro de minh'alma o desejo
De torná-la minha, tirá-la de onde sua beleza pudesse ser sorvida
Porém de nada adiantaria
Pelo contrário, poderia fazer-lhe mal pior até
Deixei-a onde o vento a embala e a terra racha
Onde eu voltaria e a encontraria mais bela
Vi perdido no teu rosto inconsequente teus lábios
A falar, a cantar e a encantar
Delicados como as mãos de minha filha
Desejo-os, mas não os tomo
Deixo-os onde eu possa voltar e encontrá-los mais belos
Mais doces, mais ansiosos, falantes, cantantes e chamando meu nome
Tentadores
Tão tentadores quanto arrancar a flor do mandacaru.