Noite de sábado de Zé Pereira e as ladeiras de Olinda estavam apinhadas de foliões, bêbados, passistas e bonecos gigantes, embalados pelos clarins das bandas de frevo e seus músicos suados e quase sem fôlego.
Era mágico participar de tudo aquilo, Talena estava feliz; era seu primeiro carnaval em Olinda, em compainha de alguns amigos da faculdade e (muitas) latas de cerveja. Pulava, dançava, tentava cantarolar, sem sucesso, as melodias populares da região...o barulho ensurdecedor não permitia que ouvisse o som da própria voz. Mas ninguém se importava, até por que se quisessem silêncio, teriam procurado praias semidesertas.
As cervejas acabaram e Talena se ofereceu pra ir comprar mais num bar próximo. Recolheu o dinheiro e dirigiu-se ao bar acompanhada de Aline, uma colega de turma. Enquanto esperavam as cervejas no balcão, puseram-se a conversar sobre o quanto era legal o carnaval ali, já que o som agora tinha dado uma trégua.
-É como viajar no tempo dos meus avós e curtir toda a inocência e alegria dos foliões!- Dizia Aline eufórica.
-Com certeza! Olinda foi mesmo a melhor opção para...
Talena não conseguiu terminar a frase ao observar que do lado oposto do balcão, estava Eric, um ex-namorado galinha e imaturo, com uma morena igualmente desinteressante pendurada no pescoço.
Ela quis morrer: fez questão de passar o carnaval em Olinda pra não ter o desprazer de topar com aquele infeliz no Recife Antigo e lá estava o delinqüente protagonizando uma cena desprezível e manchando de preto o colorido alegre do carnaval, até então, agradável.
-Viu fantasma, Lena?- Perguntou Aline preocupada com a repentina mudança de feições de sua amiga
-Antes fosse, ao menos não estaria tão aborrecida.
Aline virou-se pra onde Talena estava olhando e entendeu o porque da cara zangada dela. Pegou as cervejas e arrastou Talena pra fora do bar antes que houvesse uma brusca mudança no humor de Talena e ela fosse pra casa.
Talena estava tão concentrada em se divertir que o incidente no bar logo foi esquecido e no domingo já estavam todos ladeira a cima de novo, com a mesma euforia e excitação.
Algumas cervejas e muitas horas depois, todo mundo estava alegre demais pra voltar pra casa no meio da madrugada; resolveram sentar pelos bancos de uma praça próxima, esperar o dia amanhecer pra aparecer alguém em condições de dirigir a van que haviam alugado pra se transportar aos pólos de folia. Foi nesse momento que Talena conheceu Fernanda. Era bonita, olhos quase verdes, corpo esguio e moreno de sol, cabelos lisos, baixinha; e estava esperando alguns amigos pra voltarem pra casa juntos. Eram quase quatro da manhã quando trocaram telefones e um beijo; Talena era bissexual desde os 14 e Fernanda, se não fosse, não denunciou. Despediram-se sob a promessa de se verem à noite de novo, na mesma praça algumas horas mais cedo; se comunicariam pelo celular.
A segunda já foi menos movimentada. As ladeiras ainda estavam cheias, mas Talena e seus amigos decidiram ficar na mesma praça que esperaram o dia amanhecer ao invés de pular atrás dos blocos pelas ladeiras. Quase meia noite quando Talena sentiu o celular vibrar. Em meio aos gritos e à música altíssima, ela ouviu algo como:
-Talena, é Fernanda.
-Pode falar.- Ela respondeu.
-Não vai dar...Hoje...Meu namorado...Aqui...Outro dia?
“Uma bi comprometida... ótimo, Talena!” Ela pensou.
Foi tudo o que Talena entendeu. Não estava decepcionada, nem magoada, era só uma ficante; quantas não faziam aquilo ou coisa pior?
-Tudo bem, linda, nos falamos depois. Até mais.
Talena desligou ciente que aquele “depois” e o “até mais” obviamente não existiriam nunca. Agora era só aproveitar o resto da noite e os blocos com seus foliões animados.
Até que Talena com os olhos perdidos na multidão viu Fernanda pendurada no pescoço daquele seu ex-namorado...Como era mesmo o nome dele?
* Gargalhadas internas *
Agora sabia porque aquele rosto lhe pareceu tão familiar uma noite antes.
Bom carnaval, estimados leitores!
4 comentários:
hahahahahahahah
muito bom!!!
E nada da pílula do dia seguinte²!
É aborto, ok!
Beijos, M.H.
Saudades infinitas dessa mulher!
Brigada, Sophie...beijos!
"Amor" (bissexual) de carnaval, e presta? rsrsrs.
Foi uma graça, adorei!
Postar um comentário