quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Efeito Placebo.

A situação era inesperada. Completamente inesperada.
Uma saída com uns amigos e uns amigos de amigos e Aline se viu encantada com e pelo menos encantador de todos na roda.
Ele era magro, baixo (da altura dela... bom, qualquer um era mais alto que ela!), cabelos desgrenhados, olhos míopes escondidos sob óculos de aro grosso, barbicha no queixo (nunca tinha visto barbeador, com certeza), andar desengonçado, enfim; tudo o que ela não queria.
“Um nerd? Era só o que faltava! Eu aqui trocando indiretas com um nerd!”.
Complicada a situação.
Tudo aconteceu em flashes e lapsos de memória. Primeiro aquela noite na casa do Lavinho, tomando cervejas e conversando lorotas no quintal, sob o céu estrelado na noite de sexta, depois das aulas. Algum tempo depois (ela não sabia exatamente quanto), estavam os dois, ela e o tal nerd, no mesmo quintal, tomando cerveja, numa posição, até certo ponto, íntima (ela deitada com as pernas por cima dele, recebendo beijos na batata e no tornozelo; a sensação era ótima, por sinal), conversando sobre as férias que iam chegar, Beatles e consumismo (nada a ver? Não pra eles!).
De qualquer maneira, por mais estranho que fosse namorar aquele biotipo toda a vida renegado, além de ser uma experiência nova e inusitada, era ótimo! Fabrício (como se chamava o tal “Príncipe Encantado Nerd”) era carinhoso, atencioso, bom de cama, gentil, falava manso (e também sabia falar grosso quando necessário), tinha personalidade, caráter, inteligência...Aline nunca se sentiu tão amada por alguém na vida; só pela mãe, mas esse era outro tipo de amor.
Fabrício amava demais Aline. Falava de amor em todas as situações, tomou-lhe a virgindade como quem toma uma pérola de uma ostra, abraçava-a todas as tardes antes das aulas e dizia-lhe no ouvido que a amava, não tinha a menor vergonha de parecer um escrotinho apaixonado (de fato ele o era!) e ainda tinha tempo de procurar sempre uma maneira de deixa-la feliz. Era a mulher de sua vida, no momento, e queria que o momento se tornasse eterno; e com certeza ela sabia disso!
Andavam sempre juntos, combinavam em muitas coisas e divergiam em muitas mais; mas, essencialmente, se amavam.
E era tudo lindo, com direito a gramados enluarado e afagos na nuca.
E Aline acordou suada e ofegante depois de um sonho daqueles que não são só vistos, mas sentidos e desejados.
Por que ela não desconfiou desde o princípio? Pra ser tão bom assim, só podia ser sonho!
Se jogou pra trás e enfiou o travesseiro na cara, querendo morrer sufocada ali mesmo, sob a espuma molhada de suor.
Era amor demais, ela era amada demais, ela amava demais. Foi bom enquanto durou o devaneio; e acordou mais disposta a tentar encontrar o amor no tal nerd, ou em qualquer outra forma de vida que lhe explicasse o significado daquilo tudo. Até porque ela queria a sensação de novo.
Em vida real.

9 comentários:

Sofia O. disse...

Nossaaa!

Interessante, como poderia ser...
Mas, ainda assim, acredito que sonho bom é como chuva de sertão, demora pra vir, e quando vem não molha muito... ¬¬'

Beijos, M.H.

Assim eu vou aderir sempre aos seus conceitos, aceitando esses tipos de conselho, como se fossem pra mim.

Anônimo disse...

Ela se parece tanto com alguém que eu conheço bem. Creio você está lendo o comentário dela agora.
O nerd perfeito às vezes está ao seu lado, e muitas vezes não!

Beijos, M.H.

Pedro disse...

''...O nerd perfeito às vezes está ao seu lado ...''


É verdade.

Daniele B. disse...

"O nerd perfeito às vezes está ao seu lado, E MUITAS VEZES NÃO!"

É verdade e triste.
-
Teu texto tá muito bom Tracy,
deixasse a porta escancarada e
eu entrei!

Raphinha disse...

Ausente nos comentários, mas semper por aqui.

Raphinha disse...

*sempre

;) disse...

Já tive sonhos extremamente parecidos... talvez se a gente pudesse escolher não acordaria nunca... Mas esses sonhos dão impulso para que na realidade esse amor seja realmente encontrado. 2 blogs têm me surpreendido muito, o teu e outro. Vou parar de comprar revistas, mas aí vocês vão ter que postar mais pq eu leio muito =D..
TE AMO ressacada!

hahaha

Barbie Destrossada(sic) disse...

Ah,Maria!
Quase todos os teus [per]seguidores já tiveram tais devaneios!Inclusive eu!
Nerds são legais...

P.S.: A analogia de Sophia foi perfeita!;D

Zeca disse...

O que irei comentar?(se tua eloqüência me emudece) mais ainda sim insisto, tenho que compartilhar o contexto hamonioso que teu texto(nobre) em sí sacia, envolve, e até devolve um pouco do bom senso!

Ps.;(mudo)