Dedico a Daniele B.
Que segura todas as barras mais sujas e pesadas com ela.
E que nunca a deixou matar um sentimento que valesse a pena.
M.H
Marília estava minguando.
Era um sentimento forte, que a consumia, que lhe prometia noites sem dormir, dias sem comer e horas sem descanso. Queria tanto descansar, aproveitar essa nova fase de sua vida pra investir no que queria ser, moldar o que viria a ser sua personalidade, deixar que a alegria e empolgação dos próximos dias lhe tomassem a alma.
Porém algo tomou todo o espaço reservado pra tanta euforia: paixão.
Ou amor, mas não queria acreditar que fosse isso; não acreditava que esse bicho existisse.
Como uma cólica mestrual, o sentimento havia chegado na hora errada e, de primeira, pensou em esperar chegar sua vez. Passou uma, duas, três semanas e tudo corria tranqüilamente, sem qualquer alteração nas palpitações cardíacas, tudo sob controle.
Passou um mês e Marília nem sentiu quando os dias de convivência chegaram. Malditos dias de convivência; tornavam tudo mais difícil, impossível de se conter e de se deixar influenciar.
Primeiro a insônia, o cansaço e o desânimo lhe trouxeram algumas olheiras disfarçáveis com maquiagem, alguns cabelos brancos imperceptíveis e um tom de voz mais grave, falso aos ouvidos dos amigos mais próximos.
Depois a impaciência. Pra que esperar tanto por algo que ela nem era certa que um dia poderia se realizar? Pra que tanto trabalho em manter vivo um sentimento insano, que a tornava insana, que lhe causava arrepios e, até certo ponto, desgostos? Ela precisava de um motivo para mantê-lo vivo. Procurou nos dias, nas noites, nas palavras, nas músicas, nos amigos, nos abraços, nas aulas, nos cantos, em baixo da cama... Não encontrou em lugar algum!
E, finalmente veio o desespero. O que antes eram sorrisos de expectativa pros próximos dias se tornaram lágrimas amargas, noites, além de mal dormidas, mal vividas, conversas mal aproveitadas e um cheiro insuportável de enxofre.
Sim, leitores! O que antes cheirava a rosas, agora só deixava um odor fétido de enxofre!
Marília queria, com todas as forças de sua alma, matar aquilo, transformar-se e transformar o próprio sentimento em algo vazio, morto, putrefato.
Suportável.
Nunca precisou de tanta paciência, nunca precisou esperar tanto, apesar do pouco tempo. Absurdo querer matar algo tão puro, joga-lo numa vala fétida, tornar-se a própria vala. Mas era necessário pra ela, naquele momento de desespero. Não suportava mais esperar pelo que ela nem sabia, só estava ciente que precisava esperar. Paciência; algo que Marília nunca teve.
Porém depois de uma madrugada amarga sempre amanhece um sol saudável, vistoso e esse amanheceu sorrindo também.
E daí se nunca teve paciência pra nada na vida?
Não era esperar que a fazia sofrer; era a idéia de estar sentindo algo tão lindo e não ter peito pra suportar. Era admitir que havia descoberto algo que a fizesse tão bem quanto afagos de mãe e ter que abdicar disso por puro medo. E impaciência.
Era o fato de nunca ter sentido aquilo antes e, como todo ser humano, algo novo a assustava.
E algo novo e tão forte, tão puro, tão sincero a assustava ainda mais. Era muito pra sua cabecinha em formação, que, além de estar aprendendo a lidar com o reconhecimento de si mesma, ainda tinha que sobrar espaço, tempo e dedicação a essa coisa que tomava cada vez mais espaço dentro dela. Era demais, mas não era impossível!
E o sol lhe trouxe uma mensagem.
“Vou te ajudar a suportar, a esperar e esbofetearei sua cara quando for necessário. Você vai aprender a fazer cada minuto valer a pena”.
E mesmo que não valesse a pena, mesmo que esperar não lhe levasse a lugar algum, estava disposta a aceitar que aprender a esperar, a manter-se firme, a não desistir (é clichê, mas é verdade!) faria com que nada disso fosse em vão. Por mais amarga que fosse a espera.
Marília levantou, tomou banho, se arrumou, tomou café e foi trabalhar.
8 comentários:
Sou e tô muito feliz por ter a sorte de me deparar e reconhecer a essência essencial de pessoas providas de todo esse conteúdo; de me ver numa roda de crianças que estão aprendendo a andar e ainda assim me ajudam e incentivam quando preciso. Marília é a principal delas.
Também tá sendo o meu sol em dias chuvosos, meu amor. Eu tive muita, mas muita sorte de te encontrar neste momento em que estamos crescendo, aprendendo, fazendo escolhas que podem ser substituídas por tatuagens; marcas eternas.
Você é e sempre será minha caixinha de surpresas. Benção de Deus. Te amo!
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Esplêndida a narrativa de M.H.
Ela será sempre minha preferida. Não há palavra mais justa... "Perfeita" a descrição dos fatos reais :D~
Emoção em todos os detalhes; palavras verdadeiras e momentos mais ainda. Ninguém expressaria melhor.
Parabéns M.H.
Obrigada.
Esse texto foi quase um espelho...
Tenho andado assim, tentando não desistir por medo e criando artifícios pra suportar a dor da espera.
"Pra que tanto trabalho em manter vivo um sentimento insano, que a tornava insana, que lhe causava arrepios e, até certo ponto, desgostos?"
Obrigada!!
Poxa, Tracy.
Gostei do que li.
Me identifico com o modo pelo qual você constrói o seu texto e também com algumas expressões, parecia que eu tava lendo uma coisa minha em certas passagens.
=D
E essa confusa e despertante Marília aí, personagem?
Depois tá um look no meu:
http://clubberstyle.weblogger.com.br
(Ainda passo pro wordpress, mas tenho um apego tão grande a esse blogue =/)
É Hugo do Pontual, tá?
Hmm... Espaços hoje... Quase que não temos... Estamos sujeitos a invasão e a reversão dos mesmos... (Ele invade e é lindo, mas toma tudo! Estava lendo e precisando respirar fundo, estou com um sério problema de falta de ar... ou de amor... Paixão não é amor ¬¬')
Perspicaz!
Não poderia esperar menos, és incrivelmente única no sentido de denotar as palavras...
Abraço,
Sophia.
"If there's a kingdom beyond it all
Is there a God that loves us all
Do we believe in love at all?
I'm still pretending I'm not a fool" -Dave Gahan
Acho que já tive minha 'fase Marília de vida',mas o tempo e os amigos(até tu,Maria!) acabaram ensinando-me que a paciência é uma virtude!E como é!
Amo você,Maria.
(A Pequena não precisa de ciúmes!;*)
Sinto falta de um novo post.
Abraço.
Obrigado por Blog intiresny
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