quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
A prostituta
18h, saída da BR 232 com a Caxangá. Ela me olha do muro onde está encostada. Fuma um cigarro barato e prende o isqueiro na calcinha por baixo da micro saia. O beco está quase deserto, com excessão dos carros que passam na BR perpendicular. Carrega na bolsa preservativos, anti concepcional, celular, um bloquinho, caneta, suas alegrias, tristezas, lágrimas e decepções. Será mais uma poetisa marginal? Uma relatadora de causos? Já consigo imaginar um título para seu próximo livro: “Memórias do Hotel Paraíso volume III”. Na bolsa e nos olhos, na bolsa dos olhos. Meu carro parou no semáforo e desde então ela me encara. Com olhos desafiadores, provocadores, tristemente insinuantes. Eu não sei se fecho o vidro, se continuo naquele momento tão íntimo entre dois estranhos, se pego o acostamento e fujo do trânsito e dos olhos devoradores da concubina da esquina do beco ao lado, se abro a porta do carro e a levo para um motel para me fazer feliz, ou se a levo para minha casa para fazê-la feliz. O semáforo abre, lentamente os carros se movem, ela acompanha o meu até certo ponto, quando pára e acena um adeus. Eu paro o carro, a luz da ré acende, consigo ver seus olhos surpresos e, mesmo louca de curiosidade pra ver meu rosto e saber minhas intenções, permanece parada em cima dos tijolos quebrados da calçada. É quando desisto. Ela não viveria sem essa vida. Eu não viveria sem ela. Melhor deixá-la enquanto minha obsessão não a sufoque.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
as vezes é melhor não dar o primeiro passo... e ambos tem razão.
Postar um comentário